quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Chupeta ou dedo?

Por Carolina Mouta
Matéria para o blog O Baú da Criança
Imagem: Dreamstime

A maternidade traz consigo muitas dúvidas. As mamães de primeira viagem costumam ficar perdidas entre tantas questões e pitacos externos. A utilização da chupeta é um desses temas polêmicos, que sempre surgem na rodinha de discussão da família. Uns dizem que ela ajuda a tranquilizar a criança. Outros, que é prejudicial ao desenvolvimento. Mas, e quando o bebê a substitui pelo gostoso dedinho? Nesse caso, a emenda pode sair pior que o soneto.

Os especialistas dizem que a grande questão não é o hábito em si, mas a falta de limite para ele. A chupeta pode ser usada para dormir, como um ingrediente a mais no ritual do sono. Nesse caso, ao completar um ano de vida a criança deve ser incentivada a substitui-la por um amiguinho como um bichinho de pelúcia, um paninho... Já o dedo é mais complicado, não é? Ele está ali, disponível 24 horas por dia. Sem falar que na batalha entre o dedo e a chupeta, ela leva vantagem.

É unânime o que dizem os especialistas: o dedo é bem mais prejudicial, pois não tem o formato anatômico e age com muito mais força, fazendo pressão e causando maior deformidade. Como o hábito de chupar o dedo também é mais difícil de ser removido, não vai ter jeito. "Se o bebê começar a chupar o dedo a chupeta deve ser oferecida a fim de evitar o início do hábito", pontua a dentista Liana Carneiro Costa.

A chupeta

A verdade é que o uso da chupeta não é natural, como muita gente pode pensar. Segundo o Dr. Hamilton Roblelo, pediatra do Hospital São Camilo, as crianças não conhecem a chupeta, ela é apresentada pelos pais e avós. "Isso vem acompanhado sempre com os dizeres de que a chupeta acalma a criança. O que acalma é um bom ambiente familiar, com pais tranquilos", ressalta.

De acordo com Cláudia Razuk, coordenadora do Colégio Itatiaia, o maior erro dos pais em relação à chupeta é a supervalorização do acessório. "Eles oferecem a chupeta como se ela fosse a salvação para todos os problemas pelos quais a criança passa".

Desde que não seja exagerado, o hábito de chupar chupeta não deve ser visto com preocupação. No entanto, usar o bom senso é primordial. Para começar, a ideia de oferecer a chupeta ao recém-nascido só porque ele está chorando deve ser abolida. Os pais devem esperar os sinais da necessidade efetiva. O ideal é observar se o bebê precisa sugar o dedo ou parte da mão, um paninho, o cabelo da mãe, a roupa. Veja também se ele está com fome, com a fralda suja. As razões do choro podem ser muitas.

A inclusão precoce da chupeta pode provocar o desmame, pois o bebê pode fazer confusão de bicos (seio materno x chupeta) e passar a ter dificuldade em sugar o seio materno. Depois de fixadas as mamadas regulares, pode-se oferecer a chupeta nos casos em que o bebê precise.

A dentista Liana Carneiro Costa alerta que muitas vezes o uso do bico é até necessário para que seja suprida a necessidade de sucção do bebê. "Ofereça uma só chupeta ao bebê, apenas em momentos críticos, sem deixá-la à mão e de fácil acesso para a criança e, caso seja necessário o uso de bico, recomendamos o ortodôntico, que fará a criança exercitar mais a musculatura do que o bico comum".

Segundo a psicóloga Ana Lúcia Oliveira, o uso da chupeta não é igual em todas as crianças. "As vantagens ou desvantagens variam de criança para criança. Temos que considerar a singularidade de cada individuo", pondera.

O dedo

Há crianças que não gostam de chupeta, mas estes casos são raros e podem levar a outro hábito nada saudável: o de chupar o dedo. Tudo bem, tudo bem... Seu neném fica lindinho com o dedo na boca. Mas ele causa muitos prejuízos ao crescimento dos dentes e é muito mais difícil de ser eliminado, já que não há como restringir o acesso.

Outro problema se esconde atrás do hábito: mão de criança está sempre mexendo aonde não deve. Levar o dedinho sujo à boca pode atacar seriamente a saúde do pequeno, sem contar que, em longo prazo, poderá causar uma anormalidade do tecido dos ossos do dedo preferido.

Durante a chamada fase oral, que vai até os 20 meses, não é necessário alarde. É uma reação instintiva: o bebê tem necessidade de sugar e faz isso para se acalmar, quando está muito cansado ou com fome, carente de conforto ou chateado. Com o tempo, o hábito deveria se tornar desinteressante e ser substituído por um brinquedo macio e aconchegante, principalmente quando se mantém pela busca do conforto e não pela necessidade da sucção. Mas, quando a mania se prolonga é de extrema importância tratar a causa, pois a criança pode estar triste, solitária ou até depressiva, e por isso, chupa o dedo.

Chupeta X dedo

A dentista Liana Carneiro Costa explica que a sucção é um ato fisiológico e necessário nos primeiros meses de vida do bebê. "Crianças amamentadas no peito têm suas necessidades físicas e psicológicas supridas, contribuindo para a não aquisição dos hábitos de chupar o dedo ou chupeta, mas uma lactação inadequada, falta de aleitamento materno ou alimentação artificial dada neste período pode determinar a instalação desses hábitos".

Pode ser necessidade, sim. Mas também pode ser pura mania. A fonoaudióloga Luiza Kawagoe faz uma observação. "Às vezes a criança não chupa a chupeta e fica com a mesma na boca, apenas ocupando um espaço, quase como se fosse um brinquedinho".

Questões psicológicas não devem ser excluídas. Por volta de um ano de idade, ocorre a transição da necessidade física para a emocional. É o momento em que a criança passa a ter entendimento e começa a usar o hábito de chupar o dedo ou a chupeta para minimizar frustrações: elas podem pedir a chupeta ou levar o dedo à boca sempre que ficam chateadas, como quando recebem um não dos pais ou levam um tombo.

Pode ser que a criança também desenvolva uma relação afetiva com a chupeta. Novamente é importante avaliar a presença de transtornos emocionais e conversar com o pequeno. Quando não consegue largar a chupeta, a criança está com alguma dificuldade de aceitar frustração ou de se relacionar com o mundo. "Às vezes, a dependência também causa uma infantilização exagerada, ou seja, a criança usa o artifício da chupeta e dedo na boca como uma forma de não querer crescer”, diz Cláudia Razuk. Ela precisa entender que aquilo está fazendo mal e assim despertar a vontade de parar.

Para evitar que a criança leve o dedo à boca com frequência, Dr. Roblelo dá dicas. "Chame a atenção para atividades onde ele use as mãos como desenhar, pintar, montar", ensina o médico. Já se a questão é a retirada da chupeta, o pediatra orienta não deixá-la à mostra. "Mesmo sem vontade, ao vê-la, colocam na boca", diz.

Segundo Luiza Kawagoe, brigar com a criança não adianta e só atrasa o processo. O ideal é sempre conscientizar dos prejuízos que estes hábitos acarretam. "A proibição simples dificilmente dá resultados eficientes", pontua. E proibir não é mesmo o caminho mais correto. No entanto, é aceitável se os pais perceberem que os hábitos estão atrapalhando o desenvolvimento da criança, conforme pontua Ana Lúcia oliveira. "Mas tudo deve ser feito com respeito e carinho", ressalta a psicóloga.

Comparar a criança com outra, desde que beneficamente, pode ajudar na eliminação da chupeta ou dedo. "As crianças gostam de mostrar que estão crescendo e, quando os pais comparam seu filho com uma criança mais velha, que ela admira e que já deixou a chupeta, essa comparação pode ajudar, sim", orienta a especialista.

Na verdade o pulo do gato está em fazer as coisas de forma sutil. Se a criança perceber que os hábitos incomodam os pais, não hesitará em contrariá-los. "A criança gosta de chamar a atenção para si, gosta de ser o centro das atenções. O ideal é não ressaltar com veemência e sempre tentar distraí-la com algo que ela aprecia, além disso, os pais devem tocar calmamente no assunto, tentando de maneira simples dizer que não é bonito", ensina Dr. Roblelo.

O entra e sai da chupeta e do dedo na vida da criança varia conforme a necessidade em cada etapa do desenvolvimento. O interesse diminui com a descoberta de novos atrativos. Os pais devem oferecer mordedores e brinquedos que podem ir à boca para ensiná-la a substituir.

Para que a interrupção do hábito não cause traumas, os pais precisam estar bem seguros. "Os sentimentos deles passarão para as crianças", considera Cláudia. O incentivo também é fundamental. Por isso priorize os momentos de carinho ao lado dos seus pimpolhos e faça um elogio ou carinho sempre que a criança conseguir ficar pelo menos um tempo sem chupar dedo ou quando deixar a chupeta de lado. Pode parecer besteira, mas isso fará toda a diferença no futuro. "Deixar esses comportamentos de forma correta pode fazer com que tenhamos crianças mais ajustadas emocionalmente", diz Ana Lúcia.

A psicóloga lembra, ainda, sobre a importância da retirada dos hábitos na tenra idade. "A criança pode ser vitima de bullying por chupar dedo ou chupeta no contexto escolar e/ou social, caso ela já tenha passado da época de deixá-los para trás". A especialista diz, ainda, que os pais devem perceber o melhor momento para iniciar o processo. "Geralmente, quando a chupeta é retirada numa idade mais avançada, a criança não a substitui pelo dedo. A substituição pode ocorrer se a criança ainda sentir necessidade de sucção ou quando regride o comportamento quando ganha um irmãozinho ou quando está carente, querendo chamar a atenção".

Liana Carneiro Costa alerta os pais de que não há uma fórmula mágica para resolução do problema agindo isoladamente. "Não se pode esquecer que a continuação do hábito de sucção do dedo ou chupeta pode ter diversas causas", explica. Portanto, é importante que, em caso de dificuldade, os pais procurem a ajuda de profissionais como odontopediatras, fonoaudiólogos e psicólogos para a remoção do hábito.

Alguns contras

Problemas na respiração podem ser ocasionados por causa do uso da chupeta ou do hábito de chupar o dedo. Nos dois casos, a boca permanece aberta e faz com que a criança acabe trocando a respiração nasal pela oral. Outros problemas respiratórios também podem ser ocasionados. "Tanto chupeta quanto dedo são facilitadores de doenças respiratórias e em geral provocam a respiração oral viciosa, que também favorece doenças do trato respiratório superior", avisa a fonoaudióloga Luiza Kawagoe.

Diversas infecções são outro ponto preocupante. Um estudo apontou que crianças que não usavam chupeta tinham 33% menos incidência de infecções no ouvido médio. Portanto, se o seu filho tem tendência a otites, largar a chupeta pode ser uma excelente ideia.

E tudo acaba se interligando: de acordo com o Dr. Hamilton Roblelo, há, ainda, possibilidade de outras infecções como amigdalites, rinofaringites e sinusites causadas por conta da respiração pela boca.

Ruim para os dentes

As mamães que ainda amamentam não devem ter a ilusão de que a sucção é igual no peito e na chupeta ou dedo. A sucção do peito é a única responsável por desenvolver de maneira plena a musculatura, as arcadas e a respiração do bebê. "O aleitamento maternal serve como um exercício que estimula o desenvolvimento das estruturas orofaciais. A chupeta e o dedo não ajudam essa evolução, sem falar que podem provocar alterações nas arcadas dentárias, prejudicando a oclusão dentária", alerta a fonoaudióloga Luiza Kawagoe.

Segundo a dentista Liana Carneiro Costa, o aparecimento da maloclusão, como a mordida cruzada ou mordida aberta nas arcadas dentárias vai depender essencialmente da intensidade, força e duração diária do hábito de sucção, posição do dedo ou chupeta na boca e também a predisposição genética.

Se o seu filhote anda com a mania do dedinho na boca, não vai ter muito jeito: dê a chupeta. Ela deve ser específica para cada faixa etária e se difere em modelo e tamanho, sendo algumas com formato ortodôntico desenvolvido para causar menos prejuízos. "Os pais devem observar uma que tem alguns furinhos na ponta. É melhor e impede a ingestão de gases, é só pode colaborar com gases e cólicas nas crianças abaixo dos seis meses, depois disto ela consegue facilmente eliminar os gases e praticamente não apresenta mais cólicas", ressalta o Dr. Roblelo.

Mas o socorro tem limite: aos três anos de idade, todos os dentes de leite já estão na boca e, a partir daí, o estrago provocado pela chupeta é cada vez maior. Segundo o pediatra Hamilton Roblelo, já foi comprovado que se parar até esta idade, consegue-se reverter todas as alterações da arcada dentária, impedindo as deformidades faciais.

O impacto da sucção depende de diversos fatores e, quanto mais frequente, intenso e prolongado o hábito, maior o estrago e mais difícil a recuperação. As deformações como mordida aberta, mordida cruzada, projeção dos dentes para frente e musculatura flácida de lábios e língua podem desaparecer com o tempo. Mas casos mais graves exigem tratamento ortodôntico e fonoaudiológico para a correção e a eliminação das consequências.

Ruim para a fala

Uma coisa acaba levando à outra: se o hábito de chupar a chupeta ou dedinho trouxe alterações para a arcária dentária, irá afetar também a fala, provocando alterações na articulação dos sons. "Chupar o dedo em qualquer idade, ou chupar a chupeta após os dois anos podem prejudicar o desenvolvimento das estruturas orofaciais, interferindo tanto em condição de musculatura destas estruturas, quanto na mobilidade de língua e lábios, alterando a produção dos sons da fala", pontua a fonoaudióloga Luiza Kawagoe.

Quando a criança começa a falar e mantém a chupeta o tempo todo na boca, poderá perder o contato dos pontos articulatórios para a emissão dos sons da fala, e isso pode contribuir muito para o aparecimento de distorções como o ceceio (às vezes confundido com a língua presa: a língua entra no meio dos dentes na hora de falar sons como "s" e "z"). Sem falar que, chupando a chupeta ou dedo, a criança permanece de boca aberta e com a língua rebaixada, descansando em posição pouco natural. Isso altera a mastigação, a deglutição e o paladar.

Segundo Cláudia Razuk, se passarem do limite aceitável, os hábitos de chupar chupeta ou dedo podem ocasionar problemas no aprendizado. Isso está diretamente ligado aos prejuízos na fala.

Quer uma mãozinha?

Se já está na hora de abandonar o hábito da chupeta, incentive o seu pimpolho a se sentir independente. Prepare-se, pois não é nada fácil deixar a mania de lado. Com jeitinho e paciência a criança vai se sentindo segura e abandonando de vez o acessório. Veja alguns truques que podem ajudar vocês na transição:

- Não deixe a chupeta disponível
- Reduza aos poucos o uso, deixando com que a criança use a chupeta somente à noite, de preferência na hora de dormir
- Seja perseverante: nos primeiros dias a criança vai pedir a chupeta e caberá a você ser firme. Nunca volte atrás na decisão
- Troque a chupeta por algo que a criança goste. Pode ser uma brincadeira, um passeio ou presentinhos. Mas atenção: nunca substitua a chupeta por doces
- Criança adora a ideia de estar crescida. Diga que chupeta é coisa de bebê
- Incentive-a a dar a chupeta para o Papai Noel, para o Coelhinho da Páscoa ou para a Fadinha da Chupeta, em troca de uma lembrancinha
- Identifique os sinais de que seu filho está pronto para largar a chupeta e aproveite o momento. Na primeira oportunidade em que ele recusar a chupeta, tire-a de sua vista e aguarde. Naturalmente ele pode largar o hábito.

2 comentários:

  1. Muito bom artigo.
    Parabéns.

    Italo M. O. Consoli - CROMG 25242
    Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial
    Mestrado em Radiologia e Imaginologia Dento-facial

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    1. Olá, Italo!
      Muito obrigada!
      Continue acompanhando nossas publicações!

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