segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Refluxo do xixi

Por Carolina Mouta
Matéria publicada em 12/04/2011, no site Bolsa de Bebê *
Imagem: Dreamstime

Quem é mãe sabe que refluxo é uma palavra que não falta no seu dicionário. Afinal, os pequeninos costumam nos presentear com regurgitações sem fim. Mas, agora, vamos falar aqui sobre outro tipo de refluxo que acomete bebês e que, nem sempre, é bem diagnosticado: o refluxo do xixi.

Menos comum que o gastroesofágico, o refluxo vesico-ureteral (RVU) acomete cerca de 1% das crianças de todo o mundo.De acordo com a Drª Vera Koch, médica responsável pela unidade de nefrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, o refluxo do xixi é o retorno de parte da urina, que deveria ser expelida, para os rins. "A urina é produzida pelos rins, escoa pelos ureteres até a bexiga. Quando a bexiga fica cheia se deflagra o processo de micção, o músculo da bexiga se contrai e a urina sai pela uretra. Nas pessoas que têm refluxo, parte do volume de urina que está na bexiga volta para o rim, isto pode ocorrer só no momento da micção ou independente deste", explica.

Com isso, e com o tempo, as bactérias presentes na urina podem causar o que os médicos chamam de infecções urinárias de repetição. E, normalmente, é aí que pais e médicos descobrem a doença. "A maior parte dos refluxos é diagnosticada na investigação da infecção urinária febril da criança. Parte das dilatações renais ou hidronefroses, presentes na ecografia fetal são também causadas por refluxo", esclarece a Drª Vera. Estatísticas dão conta de que entre 25 e 40% das crianças com infecção urinária sofrem de refluxo vesico-ureteral. Isso é bastante.

Muitas vezes a infecção urinária deixa de ser diagnosticada ou é tratada como uma virose. Isso pode dar tempo para que essa infecção faça um estrago. Elas podem provocar lesões nos rins, com formação de cicatrizes definitivas que, se tiverem extensão suficiente poderão levar à insuficiência renal. Estima-se que de 5 a 15% dos casos de insuficiência renal terminal devam-se, em última análise, ao refluxo vesico-ureteral. Mesmo pequenas cicatrizes podem ocasionar, em médio-longo prazo, a instalação de hipertensão arterial e levar à deterioração da função renal. Por isso, se a criança tem infecções urinárias com frequência, é importante procurar um especialista.

Existem algumas causas para o aparecimento do RVU. Normalmente é um problema congênito, mas pode também ter origem genética e até mesmo ser motivado por um desfralde precoce. Além disso, o refluxo pode acontecer em apenas um ou nos dois rins. "O refluxo pode existir já desde o intra-útero, isoladamente ou associado a outros tipos de má-formação urinária, ou pode ser adquirido posteriormente. No menino a forma mais comum é a congênita e se apresenta precocemente. Já a menina apresenta o quadro após o primeiro ano de vida, sendo a patologia adquirida", diz a Drª Vera.

O refluxo pode ocasionar algumas complicações em médio e longo prazo. Essa evolução da doença, normalmente, está ligada à sua causa. "Em geral quanto maior o grau do refluxo, ou seja, quanto mais urina voltar aos rins, maior a chance de associação com complicações", alerta a médica. E o problema pode ter cinco graus: do um, o mais leve (refluxo só no ureter) até o cinco, o mais grave (refluxo até o rim, causando intensa dilatação renal e tortuosidade dos ureteres). A classificação internacional estabelece assim os graus:

Grau I - refluxo só para o ureter
Grau II - refluxo até o rim, sem causar dilatação renal ou ureteral
Grau III - refluxo até o rim, causando pouca dilatação renal.
Grau IV - refluxo até o rim, causando moderada dilatação renal.
Grau V - refluxo até o rim, causando intensa dilatação renal e tortuosidade dos ureteres.

A confirmação do diagnóstico é feita através da uretrocistografia miccional. É um exame radiológico, realizado com contraste: a substância é introduzida na bexiga, verificando-se se ela reflui até aos rins. Não é nada confortável, mas é necessário para que seja comprovada a suspeita e iniciado o tratamento.

Diagnosticado o quadro, o tratamento é clínico. É importante lembrar que o que vale para um paciente não é o que é colocado em prática com o outro. O tratamento é individualizado e nele são levados em conta diversos fatores como a idade da criança, o sexo, o grau de refluxo, manifestação da doença, evolução das infecções, comprometimento renal e as particularidades de cada caso. Alguns casos mais raros e extremos têm indicação cirúrgica.

Dados estatísticos revelam que 15% dos adolescentes portadores de insuficiência renal crônica têm como causa o refluxo vesico-ureteral que não foi diagnosticado ou corretamente tratado na infância. A boa notícia é que, uma vez tratado, não há com o que se preocupar. "Em geral, quando o refluxo comprovadamente desaparece, não há recidiva", finaliza a Drª Vera.

* O texto pode ter sofrido modificações

Nenhum comentário:

Postar um comentário